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terça-feira, 21 de julho de 2020

TRISTEZA PROFUNDA

Pintura mural em Queijas,  Oeiras

O que é a Tristeza Profunda?

A Tristeza pode ser considerada um sentimento momentâneo e saudável, por mais estranho que pareça. Este sentimento faz parte da vida, é comum a todos os seres humanos. Pode ser definida como a ausência de satisfação pessoal, quando nos deparamos com nossa própria fragilidade. O surgimento da Tristeza está associado a situações de perdas, sofrimentos, decepções, angústias.
Ao passar por estes momentos de Tristeza, que pode durar um certo período, há uma tendência para que este sentimento seja atenuado, e isso nos leva a elaborar o acontecido de maneira mais fortalecida emocionalmente, para que a vida retorne ao seu curso normal.
Mas se esta Tristeza não passa e se acentua, conjuntamente com uma sensação de angústia, precisamos estar atentos pois pode se tratar da Tristeza Profunda. Esse sentimento faz com que não consigamos nos dar conta de que temos que superá-lo, não conseguindo elaborar, gerando sentimento de vazio, que não acaba.
Pode estar relacionada com a perda de ente querido, término de relacionamento, relações familiares, traumas, conflitos, frustrações na carreira e no trabalho. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), por volta de 120 milhões de pessoas sofrem de Tristeza Profunda no mundo.

Tristeza Profunda e Depressão são a mesma coisa?

Tristeza Profunda não é Depressão, como muitos acreditam. A tristeza é um dos sintomas da depressão. Se a Tristeza Profunda não for superada, ou seja, esse sentimento não passar, podendo até mesmo ser acentuado, gerando sentimentos negativos recorrentes, podemos estar diante de um sintoma da Depressão.
Quando não tratada, a Tristeza Profunda pode ocasionar o aparecimento da Depressão. É importante observar e dar uma atenção especial a esses eventos, assim como a sua durabilidade, pois se for diagnosticado a Depressão, a condução do tratamento é outra por ser uma doença psiquiátrica, crônica e recorrente, sendo necessário além da indicação do acompanhamento psicológico, a intervenção medicamentosa acompanhada por um psiquiatra.

Como ver a vida melhor?

Ao falar de sentimentos, principalmente sobre Tristeza, precisamos nos dar conta que são interpretações das nossas emoções. Devemos preparar nossa mente para interpretar esses sentimentos de uma outra maneira. A insatisfação faz com que nos aproximemos da Tristeza, assinalando uma recusa perante a vida, uma dificuldade em aceitar aquilo que não traz felicidade. É natural ficar triste, não há problema algum nisso.
Mas a forma com que se reage a essas frustrações é algo que deve ser trabalhado, com a ajuda de um especialista. Quando nos conhecemos, aprendemos a administrar melhor nossas emoções, bem como saber a importância que dispensamos a cada um dos nossos sentimentos.

Dicas para superar a Tristeza Profunda:

  • Procure ficar próximo de quem você se sente bem;
  • Estabeleça laços de confiança;
  • Aceite ajuda;
  • Conecte-se aos seus sentimentos;
  • Pratique o autocuidado, o equilíbrio, a meditação;
  • Pratique exercícios físicos regularmente e tenha uma alimentação saudável;
  • Faça atividades prazerosas;
  • Compreenda a si próprio e valorize-se;
  • Faça terapia, procure ajuda psicológica.
Lembre-se que a Tristeza é um sentimento natural, mas a condução desenvolvida é de responsabilidade nossa. Ficar triste é comum a todos em determinados momentos da vida, o que precisamos aprender é como superar da melhor maneira essa fase. Assim que conseguimos identificar o que desencadeia a Tristeza, tomamos consciência da responsabilidade sobre nossos pensamentos e como administramos os sentimentos.
A partir de então nos tornamos os donos da nossa própria história. A terapia é uma grande aliada, pois o autoconhecimento facilita a descoberta de habilidades positivas, a empatia e a gratidão.
O acompanhamento psicológico é muito importante para que esta fase tão dura seja superada de forma saudável, tornando-nos capazes de ressignificar os sentimentos da vida. Valorize o cuidar de si e da sua própria vida, de seus sentimentos e das suas possibilidades. Compreender a si próprio, sentir, superar e ser feliz.

quarta-feira, 8 de julho de 2020

INVEJA

INVEJA
inveja

Inveja ou invídia é um sentimento de angústia, ou mesmo raiva, perante o que o outro tem. Este sentimento pode gerar o desejo de ter exatamente o que o outro tem (tanto coisas materiais como qualidades inerentes ao ser), sendo isso uma possível consequência da inveja e não a inveja em si, podendo essa ter outras demais consequências ou não. Esse sentimento é comum na espécie humana e pode ser encontrado em outros animais além deste, demonstrando ter um marco biológico por trás de sua evolução através das espécies.
A inveja pode ser definida como o sentimento de frustração e rancor gerado perante uma vontade não realizada de possuir os atributos ou qualidades de um outro ser, pois aquele que deseja tais virtudes é incapaz de alcançá-la, seja pela incompetência e limitação física, seja pela intelectual. Além disso, pode ser considerada um sintoma em certos transtornos de personalidade, como no Transtorno de Personalidade Borderline, no Transtorno de Personalidade Passivo-Agressiva e no Transtorno de Personalidade Narcisista.
A inveja é um dos sete pecados capitais na tradição católica .

sábado, 4 de julho de 2020

LIBERDADE





Liberdade é, em geral, a condição daquele que é livre; capacidade de agir de si mesmo; autodeterminaçãoindependênciaautonomia. Pode ser compreendida sob uma perspectiva que denota a ausência de submissão e de servidão, própria da liberdade política, mas também pode se relacionar com a questão filosófica do livre arbítrio. Se opõe à concepção de mundo determinista. Com o fim da Guerra santa no período medieval surge o conceito contemporâneo de liberdade

Espinoza

Para Baruch Espinoza (1632-1677), a liberdade possui um elemento de identificação com a natureza do "ser". Nesse sentido, ser livre significa agir de acordo com sua natureza.
É mediante a liberdade que o Homem se exprime como tal e em sua totalidade. Esta é também, enquanto meta dos seus esforços, a sua própria realização.
Tendemos a associar a fruição da liberdade a uma determinação constante e inescapável. Contudo, os ditames de nossa vida estão sendo realizados a cada passo que damos: assim, a deliberação está também a cargo da vontade humana (na qual se inserem as leis físicas e químicas, biológicas e psicológicas).
Diretamente associada à ideia de liberdade está a noção de responsabilidade, vez que o ato de ser livre implica assumir o conjunto dos nossos atos e saber responder por eles.

Leibniz

Para Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716), o agir humano é livre a despeito do princípio de causalidade que rege os objetos do mundo material.

Pecotche

Para Carlos Bernardo González Pecotche (1901-1963), a liberdade é prerrogativa natural do ser humano, já que nasce livre, embora não se dê conta até o momento em que sua consciência o faz experimentar a necessidade de exercê-la como único meio de realizar suas funções primordiais da vida e o objetivo que cada um deve atingir como ser racional e espiritual. Como princípio, assinala ao homem e lhe substancia sua posição dentro do mundo.
É preciso vinculá-la muito estreitamente ao dever e à responsabilidade individual, pois estes dois termos, de grande conteúdo moral, constituem a alavanca que move os atos humanos, preservando-os do excesso, sempre prejudicial à independência e à liberdade de quem nele incorre.
A liberdade é como o espaço, e que depende do ser humano que ela seja, também como ele, mais ampla ou mais estreita, vinculada ao controle dos próprios pensamentos e das atitudes. O conhecimento é o grande agente equilibrador das ações humanas e, em consequência, ao ampliar os domínios da consciência, é o que faz o ser mais livre.

Philip Pettit

A relevância de Philip Pettit reside em sua construção de uma teoria da liberdade que traz consigo implicações práticas para a consecução das finalidades de uma democracia.
Para iniciar sua empreitada filosófica, Pettit resgata dois pontos importantes do debate filosófico acerca da liberdade:
O tratamento simbiótico imprimido à liberdade da vontade e à liberdade política; (ii) a tradição republicana de conceptualização da liberdade como não dominação, posteriormente substituída pela percepção liberal desta enquanto não interferência.
Philip inicia sua abordagem pela ótica da liberdade da vontade. Para tanto, resgata as ideias desenvolvidas por Immanuel Kant quando posto diante da seguinte indagação: existe liberdade da vontade?

Schopenhauer

Para Arthur Schopenhauer (1788-1860), a ação humana não é absolutamente livre. Todo o agir humano, bem como todos os fenómenos da natureza, até mesmo suas leis são níveis de objetivação da coisa-em-si kantiana que o filósofo identifica como sendo puramente vontade.
Para Schopenhauer, o homem é capaz de acessar sua realidade por um duplo registro: o primeiro, o do fenômeno, onde todo o existente reduz-se, nesse nível, a mera representação.
No nível essencial, que não se deixa apreender pela intuição intelectual, pela experiência dos sentidos, o mundo é apreendido imediatamente como vontade, Vontade de Vida. Nesse caso, a noção de vontade assume um aspecto amplo e aberto, transformando-se no princípio motor dos eventos que se sucedem na dimensão fenomênica segundo a lei da causalidade.
O homem, objeto entre objetos, coisa entre coisas, não possui liberdade de ação porque não é livre para deliberar sobre sua vontade. O homem não escolhe o que deseja, o que quer. Logo, não é livre - é absolutamente determinado a agir segundo sua vontade particular, objetivação da vontade metafísica por trás de todos os eventos naturais. O que parece deliberação é uma ilusão ocasionada pela mera consciência sobre os próprios desejos.É poder viver sem ninguém mandar.

Sartre

Para Jean-Paul Sartre (1905-1980), a liberdade é a condição ontológica do ser humano. O homem é, antes de tudo, livre.
O homem é livre mesmo de uma essência particular, como não o são os objetos do mundo, as coisas. Livre a um ponto tal que pode ser considerado a brecha por onde o Nada encontra seu espaço na ontologia. O homem é nada antes de definir-se como algo, e é absolutamente livre para definir-se, engajar-se, encerrar-se, esgotar a si mesmo.
O tema da liberdade é o núcleo central do pensamento do filósofo francês e resume toda a sua doutrina.
Sua tese é: a liberdade é absoluta ou não existe. Sartre recusa todo determinismo e mesmo qualquer forma de condicionamento. Assim, ele recusa Deus e inverte a tese de Lutero; para este, a liberdade não existe justamente porque Deus tudo sabe e tudo prevê. Mas como, para Sartre, Deus não existe, a liberdade é absoluta. E recusa também o determinismo materialista: se tudo se reduzisse à matéria, não haveria consciência e não haveria liberdade. Qual é, então, o fundamento da liberdade? É o nada, o indeterminismo absoluto. Agora, entende-se melhor a má-fé: a tendência a ser termina sendo a negação da liberdade. Se o fundamento da consciência é o nada, nenhum ser consegue ser princípio de explicação do comportamento humano. Não há nenhum tipo de essência - divina, biológica, psicológica ou social - que anteceda e possa justificar o ato livre. É o próprio ato que tudo justifica. Por exemplo: de certo modo, eu escolho inclusive o meu nascimento. Por quê? Se eu me explicasse a partir de meu nascimento, de uma certa constituição psicossomática, eu seria apenas uma sucessão de objetos. Mas o homem não é objeto, ele é sujeito. Isso significa que, aqui e agora, a cada instante, é a minha consciência que está "escolhendo", para mim, aquilo que meu nascimento foi. O modo como sou meu nascimento é eternamente mediado pela consciência, ou seja, pelo nada. A falsificação da liberdade, ou a má-fé, reside precisamente na invenção dos determinismos de toda espécie, que põem no lugar do nada o ser.
A liberdade humana revela-se na angústia. O homem angustia-se diante de sua condenação à liberdade. O homem só não é livre para não ser livre: está condenado a fazer escolhas - e a responsabilidade de suas escolhas é tão opressiva que surgem escapatórias através das atitudes e paradigmas de má-fé, onde o homem aliena-se de sua própria liberdade, mentindo para si mesmo através de condutas e ideologias que o isentem da responsabilidade sobre as próprias decisões.

Política

Guy Debord

No livro A Sociedade do EspetáculoGuy Debord (1931-1994), ao criticar a sociedade de consumo e o mercado, afirma que a liberdade de escolha é uma liberdade ilusória, pois escolher é sempre escolher entre duas ou mais coisas prontas, isto é, predeterminadas por outros. Uma sociedade como a capitalista, onde a única liberdade que existe socialmente é a liberdade de escolher qual mercadoria consumir, impede que os indivíduos sejam livres na sua vida cotidiana. A vida cotidiana, na sociedade capitalista, se divide em tempo de trabalho (que é não livre, submetido à hierarquia de administradores e às exigências de lucro impostas pelo mercado) e tempo de lazer (onde os indivíduos têm uma liberdade domesticada que é escolher entre coisas que foram feitas sem liberdade durante o tempo de trabalho da sociedade). Assim, a sociedade da mercadoria faz da passividade (escolher, consumir) a liberdade ilusória que se deve buscar a todo o custo, enquanto que, de fato, como seres ativos, práticos (no trabalho, na produção), somos não livres.

Étienne de La Boétie

O filósofo Étienne de La Boétie, em seu Discurso sobre a Servidão Voluntária, trata especificamente da liberdade política, que se dá em meio aos outros humanos e não algo estritamente individual. A liberdade é natural,  assim como a vontade de defendê-la[4] - de modo que um exército de homens livres está muito mais disposto a vencer uma guerra que um exército de servos[4], já que os servos não possuem nenhuma motivação para vencer tal combate. Como os homens são livres e iguais[4], qualquer divisão na sociedade a transforma em uma sociedade de servidão[4] e, diferentemente de Jean Jacques Rousseau, La Boétie não presume que tais sociedades nunca tenham existido, mas afirma que evidentemente as sociedades eram livres antes de sua divisão, ou seja, antes do nascimento do Estado[5]. Por essa razão, La Boétie pode ser considerado um precursor do pensamento anarquista.
O caráter natural da liberdade é tão pujante que, de fato, nem mesmo os animais suportam a servidão sem protestar, como La Boétie descreve no seguinte trecho:
“Só quem for surdo não ouve o que dizem os animais: viva a liberdade! Muitos deles morrem quando os apanham. [...] O que quer dizer o elefante que, depois de se defender até mais não poder, sentindo-se impotente e prestes a ser apanhado, espeta as presas nas árvores e as quebra, assim mostrando o grande desejo que tem de continuar livre como nasceu? Assim dá a entender que deseja negociar com os caçadores, dando-lhes os dentes para que o soltem, entregando-lhes o marfim em penhor da liberdade.” [4]
Então, como é possível que a maioria se curve e obedeça de bom grado à poucas pessoas ou até a apenas uma pessoa? Na verdade, La Boétie não responde o porquê em primeiro lugar houve a divisão da sociedade, mas responde a como esse tirano se mantém no poder e  dá três razões para isso:
  1. o hábito - as pessoas não tem lembrança alguma da liberdade pois já nascem em servidão, e mesmo que os humanos sejam naturalmente livres, também está na natureza a tendência a adquirir certos costumes. Essa “mudança de natureza” humana é o precursor do que poderíamos chamar de alienação, conceito que seria desenvolvido séculos depois por Hegel.
  2. a covardia derivada de uma “ilusão” acerca do tirano - os súditos se encantam de tal maneira, “manietados e entorpecidos” pelos “teatros, jogos, farsas, espetáculos, feras exóticas, as medalhas, os quadros e outras bugigangas” que perdem qualquer força ou energia.
  3. a própria estrutura hierárquica do poder - as poucas pessoas que cercam o tirano e são de sua confiança são dominadas por ele e dominam as demais, o que para La Boétie é como estender “ambas as mãos” [4] à servidão, afastar-se definitivamente da liberdade. O autor explica melhor a dinâmica no seguinte trecho: “Essa meia dúzia tem ao seu serviço mais seiscentos que procedem com eles como eles procedem com o tirano. Abaixo destes seiscentos há seis mil devidamente ensinados a quem confiam ora o governo das províncias ora a administração do dinheiro, para que eles ocultem as suas avarezas e crueldades, para serem seus executores no momento combinado e praticarem tais malefícios que só à sombra deles podem sobreviver e não cair sob a alçada da lei e da justiça. E abaixo de todos estes vêm outros.” [4]
O poder do tirano em última instância está sempre em seus súditos: o povo voluntariamente nega sua liberdade e transfere poder para o tirano. Sem a liberdade, nem  mesmo as posses são aprazíveis, porque nada é definitivamente nosso - e ao tirano não resta muita coisa, pois até mesmo a amizade é impossível a ele. Para La Boétie, existe uma maneira de escapar da servidão, que é simplesmente cessando de desejá-la, como explicita na seguinte passagem:  
“o mais espantoso é sabermos que nem sequer é preciso combater esse tirano, não é preciso defendermo-nos dele. Ele será destruído no dia em que o país se recuse a servi-lo. Não é necessário tirar-lhe nada, basta que ninguém lhe dê coisa alguma. Não é preciso que o país faça coisa alguma em favor de si próprio, basta que não faça nada contra si próprio.”
Portanto, a liberdade é alcançada através de um simples ato de vontade: não é necessária ousadia, guerra ou combate.

Marx

Influenciado por Hegel,[6] nos Manuscritos econômico-filosóficos e em A Ideologia AlemãKarl Marx (1818-1883) entende a liberdade humana como a constante criação prática pelos indivíduos de circunstâncias objetivas nas quais despontam suas faculdades, sentidos e aptidões (artísticas, sensórias, teóricas...). Ele, assim, critica as concepções metafísicas da liberdade.
Para ele, não há liberdade sem o mundo material no qual os indivíduos manifestam na prática sua liberdade junto com outras pessoas, em que transformam suas circunstâncias objetivas de modo a criar o mundo objetivo de suas faculdades, sentidos e aptidões. Ou seja, a liberdade humana só pode ser encontrada de fato pelos indivíduos na produção prática das suas próprias condições materiais de existência.
Desse modo, se os indivíduos são privados de suas próprias condições materiais de existência, isto é, se suas condições objetivas de existência são propriedade privada (de outra pessoa, portanto), não há verdadeira liberdade e a sociedade se divide em proletários e capitalistas. Sob o domínio do capital, a manifestação prática da vida humana, a atividade produtiva, se torna coerção, trabalho assalariado; as faculdades, habilidades e aptidões humanas se tornam mercadoria, força de trabalho, que é vendida no mercado de trabalho, e a vida humana se reduz à mera sobrevivência.
Marx diz que as várias liberdades parciais que existem no capitalismo - por exemplo, a liberdade econômica (de comprar e vender mercadorias), a liberdade de expressão ou a liberdade política (decidir quem governa) - pressupõem que a separação dos homens com relação às suas condições de existência seja mantida, pois, caso essa separação seja atacada pelos homens em busca de sua liberdade material fundamental, todas essas liberdades parciais são suspensas (ditadura) para restabelecer o capitalismo. Mas se a luta dos indivíduos privados de suas condições de existência (proletários) tiver êxito e se eles conseguirem abolir a propriedade privada dessas condições seria instaurado o comunismo, que ele entende como a associação livre dos produtores.

Mikhail Bakunin

Bakunin (1814-1876) não se referia a um ideal abstrato de liberdade mas a uma realidade concreta baseada na liberdade simétrica de outros. Liberdade consiste no "desenvolvimento pleno de todas as faculdades e poderes de cada ser humano, pela educação, pelo treinamento científico, e pela prosperidade material." Tal concepção de liberdade é "eminentemente social, porque só pode ser concretizada em sociedade," não em isolamento. Em um sentido negativo, liberdade é "a revolta do indivíduo contra todo tipo de autoridade, divina, coletiva ou individual."

quarta-feira, 1 de julho de 2020

IGUALDADE FORMAL E MATERIAL


IGUALDADE FORMAL E MATERIAL



Igualdade é a inexistência de desvios ou incongruências sob determinado ponto de vista, entre dois ou mais elementos comparados, sejam objetosindivíduosideiasconceitos ou quaisquer coisas que permitam que seja feita uma comparação.
Especificamente no âmbito da Política, o conceito de igualdade descreve a ausência de diferenças de direitos e deveres entre os membros de uma sociedade. Em sua concepção clássica, a ideia de sociedade igualitária começou a ser cunhada durante o Iluminismo, para idealizar uma realidade em que não houvesse distinção jurídica entre nobrezaburguesiaclero e escravos. Mais recentemente, o conceito foi ampliado para incluir também a igualdade de direitos entre génerosclassesetniasorientações sexuais, etc.
Durante a Revolução Francesa, o termo igualdade compunha a palavra de ordem dos revolucionários, Liberdade, Igualdade, Fraternidade.
No contexto da pós-modernidade, a ideia de igualdade tem sido gradualmente abandonada e preterida pela ideia de diversidade.
Juridicamente, a igualdade é uma norma que impõe tratar todos da mesma maneira. Mas a partir desse conceito inicial, temos muitos desdobramentos e incertezas. A regra básica é que os iguais devem ser tratados da mesma forma (por exemplo o peso do voto de todos os eleitores deve ser igual). Mas como devemos tratar os desiguais, por exemplo, os ricos e os pobres. Se fala em igualdade formal quando todos são tratados da mesma maneira e em igualdade material quando os mais fracos recebem um tratamento especial no intuito de se aproximar aos mais fortes.

Igualdade formal

Nascida com a Revolução Francesa e desenvolvida ao longo dos séculos XVIII e XIX, a igualdade formal consiste no aforismo todos são iguais perante a lei. Almeja submeter todas as pessoas ao império da lei e do direito, sem discriminação quanto a credosraçasideologias e características socio económicas.
Desta maneira a igualdade formal tem uma compreensão estática e negativa, fundada na simples abstenção do Estado em promover privilégios, concepção essa decorrente de sua origem e função primeira: instituição de um Estado de Direito em oposição a um regime monárquico absolutista.
Apesar de ter importante valor axiológico, a igualdade formal é incapaz, por ela mesma, de contribuir de maneira significativa na reversão de desigualdades sociais, tarefa que só pode ser realizada com a adoção do preceito da igualdade material.

Igualdade material

A igualdade material, baseada na proposição de Aristóteles:
“Devemos tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais, na medida de sua desigualdade.”
— Aristóteles
se volta a diminuir as desigualdades sociais a fim de oferecer proteção jurídica especial a parcelas da sociedade que costumam, ao longo da história, figurar em situação de desvantagem, a exemplo dos trabalhadores, consumidores, população de baixa renda, menores e mulheres.
Desta maneira, a Constituição Brasileira, por exemplo, não estabelece equivalência absoluta entre as pessoas mas sim o que a doutrina do direito chama de isonomia que seria a equivalência apenas daqueles que se encontram na mesma situação. Para atender a esse preceito, prevê o uso de instrumentos de promoção social e jurídica, já que a mera igualdade formal não é capaz de fornecer a alguns indivíduos as mesmas oportunidades disponíveis que os demais indivíduos bem colocados na sociedade.