CASITAS DE
MILHO
Se alguém, que viveu os anos 60
nesta "maravilhosa Chaveira/Chaveirinha",
decidisse começar a escrever apenas sobre o milho,
ou seja, como e onde se semeava,
como se trabalhava o terreno
para que fosse regado,
o que dele era retirado para alimento das pessoas e dos animais,
como era trabalhado, desde semeado, até servido à mesa,
em forma de broa, ou em grão,
numa pia ou capoeira como alimento animal,
teria, certamente, tema suficiente para preencher
muitas páginas dum volumoso livro.
Embora gostasse, um dia, poder fazê-lo,
pois vivi tudo isso e recordo esses tempos,
apesar de difíceis, com muita saudade,
hoje vou apenas recordar as "casitas de milho".
Poucos eram os lares, desse tempo,
que não possuíssem uma casita,
que também era constituída por uma eira
para secagem dos grãos.
Depois de atingirem a maturação,
as espigas eram transportadas para estas casitas,
onde eram descamisadas e, mais tarde, debulhadas
depois de expostas ao sol, na eira, até à sua completa secagem.
Como, em todas as aldeias, havia sempre algumas famílias
que cultivavam mais e outras menos
e famílias mais ou menos numerosas e,
como tal, havia muita entreajuda.
Aqueles que, por qualquer motivo,
já estavam mais folgados, juntavam-se ao serão,
com outras famílias, ajudando-as
para que todos conseguissem meter, nas arcas,
a tempo e horas, o precioso grão,
eram noites divertidas em que se contavam muitas histórias,
se contavam algumas anedotas e que se davam alguns abraços e beijinhos
quando aparecia uma espiga de milho negro (milho rei).
Em cada noite, depois das descamisadas,
as mulheres, crianças e alguns mais idosos regressavam a casa,
enquanto os outros improvisavam uma cama, em cima dos "camisos"
onde pernoitavam vigilantes,
pois corria o boato que as espigas desapareciam,
de vez em quando, não vá alguma mulher reclamar,
tenho conhecimento que algumas raparigas (poucas)
também ficavam de vigia, mas com a companhia do pai.
Também havia alguns homens que não dispensavam
o conforto da sua caminha, lá em casa,
na companhia da sua amada e,
vai daí, deixavam algo volumoso na cama improvisada,
lá na eira, a imitar alguém deitado,
para enganar os eventuais ladrões e iam dormir a casa.
Não sei se infelizmente ou felizmente, quase todas essas casitas,
tão importantes, nesse tempo, estão hoje em ruínas.
Contributo de José Henriques Marques 03/12/2021
PARA MEMÓRIA FUTURA