Na lírica medieval galego-portuguesa uma cantiga de amigo é uma composição breve e singela posta na voz de uma mulher apaixonada. Devem o seu nome ao facto de que na maior parte delas aparece a palavra amigo, com o sentido de pretendente, amante, esposo.
As cantigas de amigo procedem de uma reelaboração culta da lírica popular anterior. São, portanto, de origem autóctone, a partir do contacto da lírica pré-trovadoresca popular, já reelaborada nas cortes, com a lírica cortesã occitana (a cançó). A primeira contribuiu com o feminismo, o paralelismo e o refrão e a segunda com o formalismo, o esteticismo e a corte.
Ainda que todos os poetas medievais fossem homens, utilizavam o ponto de vista feminino nas cantigas de amigo, que têm como tema o erotismo feminino e os conflitos resultantes da ausência do 'amigo'. Caracterizam-se formalmente pela repetição (paralelismo, leixa-pren e refrão).
O tema fundamental é o sofrimento por amor (às vezes, a morte por amor), motivado normalmente pela ausência do 'amigo'. Às vezes apresentam-se formas em que se engana à mãe vigilante, ou se mostra alegria no regresso do amigo e outras ciúmes ou ansiedade. A voz poética é a de uma jovem que relata as suas vivências amorosas, ora num monólogo, ora num diálogo com suas amigas, irmãs ou inclusive com a mãe. Os estados de ânimo são diversos e incluem a alegria pela chegada do amigo, a tristeza pela sua ausência ou a ansiedade pelo seu regresso, o desejo de vingança, ciúmes, etc. Os ambientes nos qual decorrem são o campo, o mar ou a casa: a fonte, aonde foram procurar água ou lavar o cabelo, o rio ou a peregrinação.
As personagens que intervêm são:
- A amiga, que é com frequência a voz poética. Por vezes é ingénua, outras narcisista, outras comporta-se de maneira esquiva ou é vingativa.
- A mãe, que representa geralmente o código social proibitivo.
- Confidentes: a mãe, uma amiga, a irmã, outras noivas, a natureza (as flores, as ondas do mar), etc.
- O amigo, frequentemente ausente.
- Barcarolas ou marinhas: Ocorrem na presença do mar, que adquire certa personalização ao se lhe dirigir a amiga como seu confidente.
- Cantigas da peregrinação: A amiga está num santuário, ermita ou capela, lugar de reunião que serve de pretexto para o encontro dos apaixonados. Este contexto é exclusivo da literatura galego-portuguesa.
- Dançadas: Composições alegres e festivas nas quais se realiza um convite à dança.
- Alvas, albas ou alvoradas: Faz-se referência ao amanhecer; nas "alvas" provençais os amantes separavam-se após terem pernoitado juntos.
- Paralelismos: repetição da mesma ideia em duas estrofes sucessivas nas que só mudam as palavras finais de cada verso ou a ordem delas, com o que varia a rima.
- Leixa-prén: repetição dos segundos versos de um par de estrofes como primeiros versos do par seguinte, o que acentua o paralelismo entre as estrofes que o possuem.
- Refrão: verso ou versos repetidos ao final de cada estrofe.
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