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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

SABEDORIA POPULAR "MEMÓRIAS"

A MINHA BONECA

Por:

Elvira Tavares (Fidalgo)

Moita Ricome de Cardigos, para um dos Boletins Trimestrais, da Misericórdia de Cardigos

 Sinto-me triste a valer
Estou fartinha de pensar
Mas não consigo saber
E não posso adivinhar

Por que é que Jesus Menino

Com os anjinhos do céu

Nada pôs no sapatinho

E pela janela não desceu.

 

Deixei a janela aberta

E lá dentro uma luzinha

Para o Menino saber

Onde era a minha casinha.

Que triste a minha ansiedade!

Vou confessar o meu segredo:

Não fiz uma só maldade

Para não merecer um brinquedo!

 

Uma boneca, meu Deus!

Com lindos cabelos de ouro,

Os olhos da cor do céu

Eram para mim um tesouro!

Nas palminhas andaria,

Cheia de rendas e laços,

Grandes sonos dormiria,

Embalada nos meus braços.

 

Minha mãe que é pobrezinha,

Beijou-me ao ver-me chorar

E disse:

 minha filha, o Menino há-de voltar,

Tua boneca hás-de ter.

Ajoelha e põe as mãozinhas.

Que Jesus não pode esquecer

As crianças pobrezinhas!

 

Meu Jesus, o meu sapatinho

Por ser velho não mereceu

Que a tua doce mãozinha

Me trouxesse lá do céu.

Uma boneca, ó Deus Menino!

Ouve, agora, esta oração

Dá-me um lugar pequeno

Dentro do teu coração!

 

   PADRE  CRUZ

(Transmitido por Ti Rosa, do Freixoeiro de Cardigos, para o 4º Boletim Trimestral da Misericórdia de Cardigos)

Já morreu o Padre Cruz,

Um Apóstolo de Jesus,

O mais santo dos velhinhos,

As leis de Cristo cumpria,

Aos ricos ia pedir

Para dar aos pobrezinhos.

Era santo com certeza

Esse amigo da pobreza,

E venerado ancião.

Andava pelos portais, cadeias e hospitais

Na mais digna devoção.

 

Os milagres que ele fez

São para sempre lembrados.

Foi tantas vezes a pé,

Foi levar a sua fé

Aos mais velhos povoados.

 

Rico ou pobre

Velho ou novo

Tinha bem por ele o povo

A mais santa devoção.

As crianças quando o viam

Ao seu encontro corriam

Para lhe beijar a mão.

 

Padre Cruz pediu a Deus

Que a sua hora derradeira

Fosse a uma sexta-feira

Dia em que Cristo morreu

E por divina bondade

Deus satisfez-lhe a vontade.

Diz o povo que hoje chora

Como queria, sucedeu,

No mesmo dia morreu

E, também à mesma hora.

 

OS DOIS ÓRFÃOS

Por:

Ti Elvira Tavares, de Moita Ricome de Cardigos, para o Boletim Trimestral da Misericórdia de Cardigos

O que fazes ó criança,

Em cima desse penedo?

Estou a olhar para o cemitério

Quero lá ir, tenho medo.

 

O que vais tu lá fazer,

Se tu lá não vês ninguém?

Quero ir beijar a campa,

Onde já está a minha mãe.

Então, tu já não tens mãe?
Criança tão pequenina!

Também morreu o meu pai,

Sepultado numa mina!

 

O que fazes ó criança,

Neste mundo sem ninguém?

Estou com o meu irmão

Que órfão ficou também.

 

O que faz o teu irmão

Para te poder sustentar?

Anda a pedir pelas portas

Quem esmola lhe quer dar.

 

E tu vai pedir também

Para ajudar o teu irmão.

Já sabem que tu és órfã

 Já ninguém te diz que não.

 

Se tu fosses minha mãe

Não me falavas assim.

Beijavas-me e abraçavas-me
Como dantes era assim!
 
A boca com que eu te beijava
Já de terra a enchi.
Os braços com que te abraçava
Já não têm sabor, nem fim.

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