A MINHA BONECA
Por:
Elvira Tavares (Fidalgo)
Moita Ricome de Cardigos, para um dos Boletins
Trimestrais, da Misericórdia de Cardigos
Estou fartinha de pensar
Mas não consigo saber
E não posso adivinhar
Por que é que Jesus Menino
Com os anjinhos do céu
Nada pôs no sapatinho
E pela janela não desceu.
Deixei a janela aberta
E lá dentro uma luzinha
Para o Menino saber
Onde era a minha casinha.
Que triste a minha ansiedade!
Vou confessar o meu segredo:
Não fiz uma só maldade
Para não merecer um brinquedo!
Uma boneca, meu Deus!
Com lindos cabelos de ouro,
Os olhos da cor do céu
Eram para mim um tesouro!
Nas palminhas andaria,
Cheia de rendas e laços,
Grandes sonos dormiria,
Embalada nos meus braços.
Minha mãe que é pobrezinha,
Beijou-me ao ver-me chorar
E disse:
minha filha,
o Menino há-de voltar,
Tua boneca hás-de ter.
Ajoelha e põe as mãozinhas.
Que Jesus não pode esquecer
As crianças pobrezinhas!
Meu Jesus, o meu sapatinho
Por ser velho não mereceu
Que a tua doce mãozinha
Me trouxesse lá do céu.
Uma boneca, ó Deus Menino!
Ouve, agora, esta oração
Dá-me um lugar pequeno
Dentro do teu coração!
PADRE CRUZ
(Transmitido por Ti Rosa, do Freixoeiro de Cardigos,
para o 4º Boletim Trimestral da Misericórdia de Cardigos)
Já morreu o Padre Cruz,
Um Apóstolo de Jesus,
O mais santo dos velhinhos,
As leis de Cristo cumpria,
Aos ricos ia pedir
Para dar aos pobrezinhos.
Era santo com certeza
Esse amigo da pobreza,
E venerado ancião.
Andava pelos portais, cadeias e hospitais
Na mais digna devoção.
Os milagres que ele fez
São para sempre lembrados.
Foi tantas vezes a pé,
Foi levar a sua fé
Aos mais velhos povoados.
Rico ou pobre
Velho ou novo
Tinha bem por ele o povo
A mais santa devoção.
As crianças quando o viam
Ao seu encontro corriam
Para lhe beijar a mão.
Padre Cruz pediu a Deus
Que a sua hora derradeira
Fosse a uma sexta-feira
Dia em que Cristo morreu
E por divina bondade
Deus satisfez-lhe a vontade.
Diz o povo que hoje chora
Como queria, sucedeu,
No mesmo dia morreu
E, também à mesma hora.
OS DOIS ÓRFÃOS
Por:
Ti Elvira Tavares, de Moita Ricome de Cardigos, para
o Boletim Trimestral da Misericórdia de Cardigos
O que fazes ó criança,
Em cima desse penedo?
Estou a olhar para o cemitério
Quero lá ir, tenho medo.
O que vais tu lá fazer,
Se tu lá não vês ninguém?
Quero ir beijar a campa,
Onde já está a minha mãe.
Então, tu já não tens mãe?
Criança tão pequenina!
Também morreu o meu pai,
Sepultado numa mina!
O que fazes ó criança,
Neste mundo sem ninguém?
Estou com o meu irmão
Que órfão ficou também.
O que faz o teu irmão
Para te poder sustentar?
Anda a pedir pelas portas
Quem esmola lhe quer dar.
E tu vai pedir também
Para ajudar o teu irmão.
Já sabem que tu és órfã
Já ninguém te
diz que não.
Se tu fosses minha mãe
Não me falavas assim.
Beijavas-me e abraçavas-me
Como dantes era assim!
A boca com que eu te beijava
Já de terra a enchi.
Os braços com que te abraçava
Já não têm sabor, nem fim.
Sem comentários:
Enviar um comentário