Hoje apetece-me falar da minha ida aos Vales,
em criança
Logo de pequenita ouvia falar que,
à noite, se ouvia o barulho dos ferreiros a baterem
o ferro.
Ouvia falar na casa grande.
Era uma terra
que dava trabalho a muitas pessoas das aldeias à
volta.
Era uma terra que nos foi sempre muito chegada,
não tivessem vindo de lá alguns dos meus antepassados.
A primeira mulher que vi conduzir um carro, foi uma
senhora dos Vales.
As primeiras vacinas que levei,
foram nos Vales, numa loja ou garagem, penso que
perto do Solar de São Jacinto.
A primeira vez que fui
ao dentista, foi num primeiro andar, perto do Solar.
A ida à moagem do centeio, foi aos Vales.
O espreitar
os ferreiros, à saída dos Vales era interessante.
A ida às
ladaínhas, numa capelinha que havia no caminho que ia
para o Carrascal, mais tarde mudada
A ida à missa na
igreja velha. Tenho uma imagem não muito nítida de
ver no largo da igreja uns enfeites e as pessoas a comerem
a sombra das oliveiras.
Na igreja, no altar tão bonito com
o São Jacinto e os outros santos.
Antes da missa havia uma
senhora que entrava e se ajoelhava, ao cimo da igreja, que
beijava o chão, em respeito ao Santíssimo.
Eu admirava-me
como é que as pessoas iam para o coro ao lado do altar,
se eu não via nenhuma escada. Alguém disse que havia
uma porta para a rua que era para os ricos não se misturarem
com os pobres.
A igreja estava sempre cheia de gente.
Diziam que só a "protestanta" não vinha à missa.
Hoje
em dia, quem não vem, alguém os traz.
Acabada a missa
punha-se a conversa em dia.
Mais tarde veio o carteiro.
Depois de tocar a corneta, aproveitava para entregar as
cartas às pessoas.
Era rodeado pelas raparigas que esperavam
carta do namorado.
De volta a casa, os caminhos enchiam-se
de gente. E, assim, os anos foram passando como uma sombra.
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